A Técnica do Maestro 
O que está por trás dos 
gestos do regente 
Publicado na Revista Weril n.º 120
A figura do maestro ou regente ainda é envolta numa atmosfera de magia e 
mistério. E, se é verdade que para a realização de um concerto seja necessário 
um toque mágico, 99% do trabalho depende de muito conhecimento, uma boa técnica 
e um profundo estudo prévio das partituras.
É importante salientar que, embora a técnica da regência tenha evoluído, 
fundamentando-se hoje em critérios objetivos, o ponto decisivo é que haja uma 
comunicação efetiva entre maestro e músicos. Isso quer dizer que é possível um 
maestro, mesmo sem um bom preparo técnico de regência, conseguir bons resultados 
graças a uma intimidade com os músicos, com a qual cria-se um "código" de 
comunicação entre eles. Esse código, porém, só tem eficácia local.
Quando o regente possui uma técnica clara e refinada, pode trabalhar à frente 
de qualquer grupo, conseguindo transmitir suas idéias musicais a todos os 
músicos, conhecidos ou não, através de seus gestos.
Vamos analisar os princípios básicos da técnica empregada pelo maestro na 
arte de traduzir pensamentos musicais através de gestos e expressões. Os níveis 
da regência Podemos dizer que o ato de reger acontece em vários níveis 
distintos:
1. No mais imediato, os gestos do maestro devem indicar ao músico quando e 
como tocar.
2. Num segundo nível, ele deve frasear o discurso musical, conseguindo dar a 
cada frase sua inflexão adequada, destacando-a dos acompanhamentos.
3. Do ponto de vista mais elevado, ele deve ser capaz de articular a forma da 
música, conseguindo estruturar o jogo formado entre a apresentação, 
desenvolvimento e conclusão dos temas musicais presentes em cada obra.
Infelizmente, a grande maioria do regentes não ultrapassa o primeiro nível, 
muitos sendo capazes apenas de indicar o quando, sem mais nenhuma indicação 
expressiva; são os chamados "batedores de compasso". Esses poderiam ser 
facilmente substituídos por um metrônomo, como no filme "Ensaio de Orquestra" do 
diretor italiano Federico Fellini.
Vamos analisar em detalhes cada um desses níveis.
A marcação do pulso musical
A primeira coisa que os gestos do regente devem indicar é a pulsação do 
ritmo. O tempo musical não transcorre imutável e constante (pelo menos até 
Einstein surgir) como o cronológico. Ele pulsa e varia como nosso coração.
Assim, bater os compassos é um gesto pulsante. Por mais lento e legato que um 
trecho possa ser, os braços do maestro nunca traçam um desenho frio no espaço, 
mas pulsam com vida de um tempo a outro.
Embora até uma criança possa imitar a aparência dos gestos do regente, 
conseguir um gesto que seja ao mesmo tempo vivo e preciso não é uma tarefa tão 
simples. Seu domínio exige uma trabalho consciente e dedicado, similar ao do 
bailarino para andar com leveza e graciosidade.
A intensidade
Uma das características do som que é fundamental para a expressão musical é a 
intensidade, ou seja: os contrastes entre forte e piano. O maestro deve com seus 
gestos conseguir indicar claramente para cada naipe ou músico individual a 
intensidade com que eles irão tocar. Seus gestos devem ser capazes de destacar 
as idéias, que são os personagens do discurso musical, dos seus acompanhamentos, 
que são os cenários.
Alguns compositores, como Mozart, por exemplo, orquestram suas obras com uma 
técnica semelhante à dos pintores. Assim, uma única frase pode começar num oboé, 
passar para um clarinete e terminar num fagote. Cabe ao maestro sincronizar e 
equilibrar essas passagens, de forma que, para o ouvinte, a idéia musical da 
frase não se perca em meio ao colorido dos timbres dos diversos 
instrumentos.
As articulações
As diferentes articulações: staccato, legato, detaché e marcato, por exemplo, 
são uma forma de se obter diferentes texturas sonoras. Os gestos do maestro 
devem ser capazes de indicar claramente essas diferentes articulações, recriando 
um tecido sonoro vivo para a expressão musical.
As entradas e os cortes
Embora todo músico de conjunto, seja ele qual for, deve, como parte de sua 
formação, saber contar e reproduzir corretamente o ritmo da partitura, na 
prática o relógio interno de cada um nem sempre está perfeitamente sincronizado 
com o de seus colegas. Um solo executado conjuntamente por dois instrumentistas 
localizados em lados opostos do palco possivelmente não começará ao mesmo tempo, 
se não houver uma indicação clara e explícita por parte do regente. Da mesma 
forma, o final de uma frase pode ficar fragmentado se não for dirigido pelo 
regente. Gestos para entradas e cortes fazem parte dos movimentos básicos da 
técnica de regência. Quanto mais claros eles forem para os músicos, mais clara 
será a expressão musical.
O fraseado
Você já foi a alguma conferência onde o palestrante lê seu discurso do começo 
ao fim num mesmo tom sem inflexões? Assim são muitos concertos musicais. E, 
mesmo que cada instrumentista individualmente se esforce para frasear sua parte, 
se não houver o fraseado do maestro para o conjunto, tudo soará monótono.
Com exceção de alguns estilos musicais do século XX, quase toda música 
existente tem seu fraseado fundado sobre o fraseado da fala. E, como na fala, 
cada frase tem um começo, um meio e um fim. É só quando quem fala consegue 
articular nitidamente cada frase, deixando claro para o ouvinte o começo e o fim 
de cada idéia, que o discurso como um todo pode ser compreendido.
O discurso musical funciona da mesma forma. A música, além de sentida, também 
precisa ser entendida e, para que isso seja possível, deve ser correta e 
expressivamente articulada e fraseada. O maestro necessita encarar o conjunto de 
instrumentistas como um único instrumento, e é nesse que deve ocorrer sua 
interpretação. Se não houver o controle centralizado na mão do maestro, teremos 
somente um grupo de pessoas tocando ao mesmo tempo, porém sem unidade e com um 
resultado de execução ininteligível.
A concepção da forma
É neste nível em que se distinguem os "maestros normais" dos "grandes 
maestros". Reger um obra é uma coisa; construir uma concepção própria e 
conseguir expressá-la é outra muito distinta. A música é uma arte na qual os 
criadores têm à sua disposição um sistema de notação muito claro e preciso, com 
o qual podem ser grafadas as idéias musicais mais sutis. Por isso, pode parecer 
para muitos que bastaria respeitar exatamente as indicações dos compositores nas 
partituras, e as obras estariam fielmente interpretadas. A verdade, no entanto, 
está muito longe disso.
Imagine que no futuro inventem uma máquina que possa analisar a estrutura de 
um ser humano nos mínimos detalhes, até um nível subatômico. Uma outra máquina 
poderia, a partir dos dados dessa análise, recriar uma cópia perfeita do ser 
original. Mas e a alma? Pode ser descrita? Analisada? Copiada?
Mesmos nas melhores orquestras do mundo, aquelas que poderiam tocar sozinhas 
de tão precisas que são, é necessário a batuta de uma maestro para dar o "sopro 
divino" que cria a alma e origina a vida da música.
Para conquistar esse poder, o maestro precisa evoluir interiormente como ser 
humano e, a partir dessa dimensão humana, mergulhar na obra, fazendo reacender 
dentro de si a mesma centelha que, dentro do compositor, deu origem à 
criação.
Para chegar a tanto, não existe nenhuma técnica conhecida. O caminho é 
mergulhar dentro de si próprio, tentando compreender sua condição de indivíduo e 
ser humano e, a partir daí, construir uma ponte entre essa experiência profunda 
e a prática musical.
A arte de reger na Internet
Existem poucos títulos disponíveis em português sobre a técnica de regência. 
Um livro ainda encontrado nas livrarias é o "Regência Coral", de Oscar Zander 
(Editora Movimento, Porto Alegre, 1987). Para os que dominam algum idioma 
estrangeiro, a Internet pode ser uma boa fonte de informações.
Fornecemos a seguir três endereços básicos com uma sugestão de palavra de 
busca. Vale a pena procurar!
Angelino Bozzini
Como funciona o código 
gestual do regente
Vamos analisar neste artigo alguns elementos básicos da técnica da regência. 
É importante frisar desde o princípio que existem diferentes "escolas" de 
regência, e elas chegam a postular diretrizes opostas. A única regra fundamental 
válida para todas é a de que o gesto, por si só, deve transmitir com clareza a 
idéia musical do regente.
Muitos acreditam que basta ao maestro ser um bom músico para poder reger um 
grupo instrumental. Essa é uma idéia totalmente equivocada. Seria como achar que 
um excelente violinista poderia tocar um oboé sem um trabalho técnico 
específico, só por ser um grande músico. Cada instrumento, seja ele um simples 
triângulo ou uma orquestra sinfônica, têm sua técnica específica. Ela deve 
aprendida para que o instrumento seja executado corretamente.
Vejamos agora as etapas do aprendizado dessa técnica.
A formação do regente
O regente deve ter, primeiramente, uma sólida formação musical. Precisa 
conhecer a teoria da música, a harmonia, o contraponto, as formas musicais e a 
história da música, além de ter um bom treinamento em percepção e solfejo.
Além dos conhecimentos da linguagem da música, é preciso dominar as 
características e peculiaridades sonoras de cada instrumento e também da voz 
humana, quando trabalhar com coros e solistas vocais. Essa base permite que, a 
partir da partitura, o regente possa formar uma imagem musical da obra clara e 
rica em sua imaginação.
A partir do momento em que essa imagem ideal da obra tenha se formado em sua 
mente, a técnica possibilitará que ele dê vida à sua imaginação, através da 
orquestra, materializando sua concepção sonora.
Vamos à prática.
Conselhos preliminares
- Devido à limitação de espaço, este artigo não pode ser um curso sistemático 
de regência. Assim, vamos iniciar a parte prática com algumas premissas básicas:
 
- Não faça mais gestos do que o necessário para transmitir uma idéia. Você irá 
confundir em vez de esclarecer;
 
- Encontre o eixo vertical de seu corpo. Mantenha-o vertical e deixe seus 
gestos irradiarem desse centro;
 
- Dê unidade aos seus movimentos. Se, ao bater um tempo, você articular 
batuta, pulso, cotovelo, ombro, cabeça e tronco, os músicos terão muita 
dificuldade em entender qual dos movimentos está indicando o tempo.
 
- Não tente substituir a clareza de seus gestos pela sua expressão facial. 
Embora ela possa ajudar a acentuar a expressão de determinados trechos, não se 
rege com a face.
 
- Acredite no poder expressivo dos gestos! Não tente reforçá-los com outros 
movimentos. Isso seria redundante e desnecessário.
 
- Autoridade e humor são coisas distintas. Não tente impor sua autoridade pelo 
mau humor. A competência costuma levar a melhores resultados nessa área.
 
- Fale o mínimo necessário. Um ensaio não é uma palestra nem uma aula 
expositiva. É um trabalho coletivo que tenta recriar a concepção musical de um 
indivíduo.
 
- O ideal é reger de cor. Caso isso não seja possível, use a partitura apenas 
como uma referência. Seu olhar deve manter um contato direto com o dos músicos. 
Essa é a principal forma de manter o controle e a unidade psicológica da 
orquestra.
 
- Cuide do seu corpo! Relaxe sua musculatura! A linguagem da regência é 
simbólica. Para indicar um forte, basta fazer o gesto adequado, não precisa 
contrair toda sua musculatura para isso. Se você estiver usando seu corpo 
corretamente, sentir-se-á revigorado ao final de uma apresentação ou ensaio. 
Caso sua sensação seja a de que um trator lhe passou por cima, pode ter certeza 
de que não está usando seu corpo adequadamente.
 
- Seja explícito, não dê margem à comunicação equivocada. Se a telepatia é 
possível, ela não é um pré-requisito para um músico. Portanto, não espere que os 
músicos adivinhem suas idéias. Mostre-as claramente através de seus gestos!
 
- Cultive sua riqueza interior. Um maestro deve ser admirado pelos músicos por 
sua humanidade e não somente respeitado por sua autoridade. Seu verdadeiro 
trabalho inclui muito além de notas afinadas e ritmos corretos.
Vejamos agora alguns detalhes técnicos.
A área de trabalho
O regente deve ter clara para si uma área no espaço onde seus gestos 
acontecerão. A maioria de seus movimentos acontecerá no centro dessa área. 
Qualquer deslocamento desse centro deverá provocar uma diferença dinâmica ou 
expressiva dos músicos.
Como base, você deve imaginar um "_|_" (um T invertido) cuja base estará na 
linha de sua cintura. Para corais, ou dependendo da colocação dos músicos no 
local de execução, esse plano pode ser deslocado para cima.
O gesto preparatório
Talvez seja o movimento mais importante de todos, pois deve indicar 
simultaneamente o tempo, a dinâmica e o caráter da música que vai se 
iniciar.
A velocidade do gesto indicará o tempo; o peso, a dinâmica; a forma do gesto 
(angular ou redondo) indicará a articulação.
O gesto preparatório determina também o local no espaço onde reside a linha 
de base da regência. Veja a ilustração.
Um bom local para se praticar o gesto preparatório é sobre uma mesa que tenha 
como altura a linha de base de sua área de regência. Seu pulso deve estar reto, 
ficando sua mão como uma continuação de seu braço. Ao tocar a mesa, no ponto de 
marcação preparatória do primeiro tempo, o gesto deve ser idêntico àquele que 
fazemos quando queremos verificar se um ferro de passar roupas está quente, ou 
àquele que fazemos com uma baqueta tocando a pele de um tambor. É um gesto 
elástico, que não empurra, mas sim tira energia do contato. Pratique com os dois 
braços juntos e depois com cada um individualmente.
A marcação do compasso
Você encontrará em vários livros antigos gráficos de marcação de compassos 
baseados em uma cruz. Quase todos os regentes de hoje já abandonaram esse 
esquema, optando pelo "T" invertido. A principal razão disso é que, ao marcar 
todos os tempos numa linha de base, você fica com o restante da área de regência 
livre para indicações expressivas.
A ilustração mostra, como exemplo, o padrão do compasso de 4 tempos em 
legato. Como regra: quanto mais legato o trecho musical, mais redondos devem ser 
os gestos; quanto mais marcato o trecho, mais angulares os gestos.
As entradas e os cortes
Embora os dois braços possam trabalhar simetricamente para reforçar a imagem 
dos gestos, o normal é que o braço direito indique principalmente a marcação do 
tempo, da dinâmica e da articulação, ficando para o esquerdo as entradas, os 
cortes e o fraseado.
Você deve praticar uma marcação contínua do compasso com o braço direito e, 
com o esquerdo, indicar entradas em cada um dos tempos. Em trechos de 
instrumentação mais complexa, pode-se também indicar entradas para 
instrumentistas individuais com a cabeça.
Na ilustração, vemos o gráfico do gesto para um corte. Ele pode ocorrer em 
qualquer dos tempos do compasso.
Praticando
Se você já é regente e tem um conjunto sob sua batuta, pode desenvolver mais 
rapidamente e ver na prática o resultado do seu estudo.
Para os que ainda estão se preparando, aconselhamos trabalhar muito a 
imaginação, cantando interiormente, visualizando o conjunto instrumental à sua 
frente. Só utilize gravações depois que tiver formado sua própria imagem sonora 
da obra. Do contrário, você é que será regido pelo seu aparelho de som.
Não se dê nunca por satisfeito. Procure sempre aprofundar sua concepção. Uma 
obra de arte é como um indivíduo que, a cada nova abordagem, pode nos revelar 
uma nova face antes desconhecida.
Livros
Sugerimos como um bom manual sobre regência o livro "A Arte de Reger a 
Orquestra", de Hermann Scherchen. Traduzido em vários idiomas (infelizmente não 
ainda em português), pode ser facilmente adquirido via Internet. Existe uma 
tradução espanhola, mais acessível aos brasileiros, da Editorial Labor, S.A. 
(ISBN 84-335-7857-X)
A "Aura" sonora do regente
Finalizando, vale a pena falar de um fenômeno interessante: a "aura sonora" 
do regente. Ao amadurecer sua imaginação musical e aperfeiçoar sua técnica, o 
maestro cria no seu espírito um mundo sonoro próprio, impregnado com sua marca 
pessoal. Essa aura o acompanha aonde for, independente dos música que esteja 
regendo.
Assim, da mesma forma que um bom instrumentista tira o "seu" som, qualquer 
que seja o instrumento que esteja em suas mãos, o bom maestro faz o mesmo com 
cada orquestra que reger.
Angelino Bozzini é professor e trompista da Orquestra Sinfônica Municipal de 
São Paulo